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Sunday, October 16, 2011

"Carta a el-Rei D. Manuel" de Pêro Vaz de Caminha (Colecção Grandes Autores Portugueses Edição Comemorativa dos 120 anos do JN



Cronista, navegador da Armada Portuguesa e Autor da Carta do descobrimento do Brasil, Pêro Vaz de Caminha integrou a expedição de Pedro Álvares Cabral à Índia, como escrivão da Armada no ano em que o Capitão chega pela primeira vez ao Brasil, em 1500.


Após seguir viagem para a Índia, já depois do desvio imprevisto face à rota inicial, o Autor da missiva acabará por falecer, após um violento combate em conflito com os locais. Pêro Vaz de Caminha é, hoje em dia, lembrado principalmente pela carta que, a 1 de Maio de 1500, escreveu a el-Rei D. Manuel I, onde discorre sobre o então recente “achamento” do Brasil. Trata-se de um precioso documento histórico e, simultaneamente, uma obra indispensável aos amantes da literatura de viagens.


A carta está escrita em linguagem formal, respeitando o protocolo da Corte, norteado pelo tratamento cerimonioso entre a figura do Monarca e os seus cortesãos.


O relato de Pêro Vaz de Caminha deixa-nos perceber a dimensão do risco que implicava, então, o acto de navegar em águas desconhecidas: a elevada capacidade de os tripulantes das naus lidarem com o imprevisto e a mudança súbita de cenário. Da mesma forma, está também presente no conteúdo da carta o espanto ante a beleza primitiva e virginal das terras do Novo Continente. A descrição da paisagem de então cria um forte contraste com a visão actual que temos da mesma região, caracterizada pelo superpovoamento, a poluição e a transformação do relevo original pelo Homem ao longo dos últimos quinhentos anos, sobretudo pelo ritmo aceleradíssimo do crescimento urbano de que nos apercebemos ter sofrido a região nos últimos cem anos.



Ao lermos os escritos de Pêro Vaz de Caminha, damo-nos conta da dimensão do impacto que a visão daquela terra desconhecida e das gentes para eles estranhas e dos ainda mais estranhos costumes que aí habitavam, tal como a fauna e a flora locais, tiveram nos navegantes que pretendiam naquela viagem chegar à Índia, conseguindo modificar nos Europeus o conceito que então tinham do mundo.


A obra reúne ainda alguns documentos escritos que vêm completar os relato de Pêro Vaz de Caminha.


O primeiro, A relação do Piloto Anónimo, o timoneiro daquela nau que conduziu a expedição ao Brasil pela primeira vez, num autêntico e empolgante fragmento de diário de bordo.


Os acontecimentos, narrados por ambos os tripulantes da nau, são coincidentes nos factos o que ajuda a conferir-lhes veracidade histórica, apesar de o relato deste piloto desconhecido, em cinco capítulos, diferir nos estilo: mais “seco” e objectivo, o seu autor utiliza a terminologia típica dos geógrafos. Afinal, trata-se de um diário de bordo, cuja exactidão e impessoalidade vem apenas sublinhar o impacto emocional do Autor precedente. O correr do tempo, a lenta passagem dos dias e das horas, durante o período de calmaria, as alterações climáticas, por vezes bruscas ou extremas, as escalas, tudo descrito de forma precisa e tão impessoal quanto possível, vem aumentar e muito, o interesse histórico e geográfico desta viagem que já se tornou quase mítica, meio milénio depois.
Nesta compilação segue-se o relato de Mestre João Faias, bacharel em Medicina, dirigido a Dom Manuel I. Como tal, regressamos, novamente, ao estilo cortês e cerimonioso de alguém que se dirige ao seu suserano, pretendendo deleitá-lo com os pormenores da navegação. Este narrador utiliza os seus conhecimentos de astronomia, ao descrever a forma como usa o astrolábio, discorrendo sobre a arte de navegar, em estilo fluente e dinâmico, e quanto à melhor forma de prosseguir viagem durante a noite, orientando-se pelas estrelas.



Este conjunto de escritos sobre a primeira viagem ao Brasil, cruzando o Oceano Atlântico, completa-se com o Tratado da Terra do Brasil, da autoria de Pêro Magalhães Godinho, dirigida ao Cardeal Infante Dom Henrique, o qual descreve exaustivamente o respectivo relevo, fauna e flora daquelas terras, então desconhecidas.



Da mesma forma, são também, descritas as gentes das terras recém-descobertas (pelos Europeus), os respectivos usos e costumes, formas de vida religiosa, estrutura social e económica do tipo recolector. Os recursos naturais da região e a possibilidade de os explorar segundo as regras do mercantilismo que, então começava a florescer, indiciam o começo de um período de expansão, à escala global, a partir da Península Ibérica. Também os diversos tipos de alimentos desconhecidos no Novo Continente, geram grande interesse por parte dos exploradores antecipando uma autêntica revolução na dieta dos habitantes do Velho Mundo: uma imensa variedade de frutos suculentos e nutritivos, animais desconhecidos alguns deles fornecedores de carne bastante apetecível, para além de outros produtos extraídos da terra.



O autor deste Tratado não deixa, contudo, de mencionar alguns conflitos violentos com algumas tribos locais – as mais resistentes no que respeita à aculturação, traduzida num conjunto de medidas expressamente ordenadas por sua Majestade e pela Santa Madre Igreja Católica e Romana. O objectivo seria o de construir e controlar um empório comercial, assente na produção de açúcar e no comércio de madeiras exóticas, além de uma potencial exploração mineira relativa ao ouro e pedras preciosas.



Após o primeiro impacto com as tribos locais, desencadeador do espanto, estupefacção e deslumbramento dos navegantes pelas formas das belas mulheres daquelas paragens e, mais do que tudo, da naturalidade com que exibiam a sua nudez, chegaram os conflitos, mais ou menos graves e sempre relacionados muito mais com os interesses comerciais dos europeus e a luta pelos recursos naturais e posse de terras, do que pelo choque cultural ou religioso com as tribos locais.



Depreende-se, ainda, pela leitura dos quatro testemunhos de tão atribulada viagem, que o ponto principal causador do conflito é a colisão dos interesses económicos de um lado (do europeu) e o assegurar a detenção dos recurso ou fontes de sobrevivência, independência e liberdade de acção pelo outro (pelos autóctones).



Os recontros entre os navegantes e exploradores portugueses e os habitantes das terras de Vera Cruz é um dos capítulos mais sedutores da obra, sobretudo quando o autor descreve a suculência dos produtos locais comestíveis e a extrema beleza das vegetação local seguindo-se, só depois, os detalhes e as circunstâncias do choque cultural entre ambas as civilizações, a europeia e a ameríndia, que radicam em valores quase que diametralmente opostos.



Para terminar, o narrador dá a entender ao destinatário da carta dever-se estender a exploração daquelas terras através do uso da força e do trabalho escravo, legitimado inclusive pelo parecer da Santa Madre Igreja Católica e Romana, a qual acabou por desempenhar um papel preponderante na disseminação do cristianismo naquelas paragens...



Começa, a partir de então, uma nova epopeia: a saga de mais um império emergente.







Cláudia de Sousa Dias
31.07.2011

4 Comments:

Blogger Maria said...

Não é o meu "cup of tea" mas pela maneira como falas do livro deixaste-me com vontade de ler a carta ^-^

beijinhos

11:54 PM  
Blogger M. said...

Tempos idos há muito em que os portugueses eram audazes. Desses tempos perpetua-se, contudo, o saque ao próximo.
Beijinhos,
Madalena

10:14 AM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Eu nunca tinha lido. Foi-me ferecido no Natal pela minha hefe que distribuiu livros por todos os funcionários do Centro de Emprego na festa do último Natal.


E gostei bastante...


csd

6:33 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

uma grande verdade, M.


;-)


csd

6:33 PM  

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