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Monday, November 08, 2010

"2666" de Roberto Bolaño (Quetzal)“ "Livro IV - A Parte dos Crimes”




“A Parte dos Crimes

O holocausto que envolve os homicídios de mais de trezentas mulheres, decorridos num período de poucos anos, é esmiuçado aqui, na quarta parte da saga. Os assassínios, antecedidos de violação com requintes de sadismo, vão ocorrendo a conta gotas mas de forma sistemática. A narração é feita sob a forma de dossier criminal, assemelhando-se a um conjunto de relatórios de um Instituto de Medicina Legal ou de um departamento de Anatomia Forense, compilados e arquivados na Divisão dos Crimes Sexuais da entidade que, no México, equivale à Polícia Judiciária.



A Parte dos Crimes é de um relato frio a fazer jus ao discurso típico de um médico forense. O objectivo deste segmento da saga 2666 é o de, em primeiro lugar, mostrar a imensidão dos crimes perpetrados naquele lugar ou a magnitude do seu prolongamento no tempo e respectivo grau de violência. À medida que progredimos na leitura, apercebemo-nos facilmente de que os crimes não podem, todos eles, ser cometidos pela mesma pessoa – não só pela quantidade de ocorrências, pela “assinatura” ou tipo de marcas deixadas nas vítimas (que permite logo identificar criminosos diferentes) mas sobretudo pelo facto de, alguns deles, ficarem esclarecidos (porque apanhados em flagrante ou confessarem) e os crimes do mesmo género continuarem a ocorrer.



O leque de mulheres assassinadas é, também, muito variado. São em regra, belas ou atraentes mas com idade que vão desde os dez anos até rondar os quarenta, raramente ultrapassando aquela faixa etária, como o caso em que o assassino apanhado após ter violado e morto a mãe por vingança declarando tê-lo feito “para que ela aprenda”. A violação naquele contexto cultural parece ser, muitas vezes mais um acto de punição do que motivada pelo desejo ou a luxúria. É uma espécie de vingança. Noutros casos parece ser apenas uma espécie de desporto. O móbil do crime parece diferenciar os assassinos consoante as classes sociais. No caso daqueles que são oriundos das classes abastadas manifesta-me mais como uma afirmação de poder.



Na realidade, as estatísticas parecem confirmar o facto de que o número de mulheres violadas naquela região é muito superior ao das mulheres cuja morte é o resultado da violação.
As mulheres violadas em série e posteriormente assassinadas são, em regra mortas para que os assassinos de mantenham na sombra e possam perpetrar novos crimes. Em santa Teresa, a maior parte das mulheres violadas e assassinadas são de origem humilde e trabalham nas “maquiladoras". Fazem turnos, saem muitas vezes do trabalho de madrugada, horas antes do alvorecer, percorrem largas distâncias a pé desde o local de trabalho até à residência. Em suma: estão expostas a vários factores de risco, numa das zonas de maior violência social do Globo.

Mas entre as vítimas, há também aquelas que exercem a chamada “prostituição de luxo” ou então as que são recrutadas à força para trabalharem como escravas sexuais, pressionadas pelos cartéis das máfias locais ligadas ao tráfico humano e ao narcotráfico e cujo lideres estão ligados ao poder local e à Grande Indústria das…"maquiladoras”.



No final da quarta parte da saga, o Autor dá a entender que a forma de debelar um problema tão complexo terá de envolver uma equipa multidisciplinar, proveniente dos vários órgãos competentes, liderada por uma entidade externa, independente, a que se junta um considerável esforço que dependeria da vontade política do Estado e do interesse massivo da população, sobretudo masculina, de que as coisas mudem. Ao chegar ao final desta quarta parte, ficámos com a sensação que o Autor apenas quis dar um vislumbre, da realidade, isto é, da imensidão do inferno e do paroxismo que pode atingir a maldade humana. O protagonismo de algumas personagens que aparentam adquirir um peso considerável na resolução da trama parece como que diluir-se no final, sucumbindo à própria impotência, fruto da ausência de um esforço colectivo. no sentido de colaborar na operacionalização dos mecanismos de mudança.
Os últimos parágrafos apontam para uma coligação do forças encarregue de descobrir uma solução para o caso a qual terá, diante de si, um caminho pedregoso, cheio de espinhos, e com uma multiplicidade de obstáculos. A estória termina em aberto com um ponto de interrogarão onde está implícita uma réstia de esperança…






CSD

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