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Thursday, February 24, 2005

"Jaya" Gita Mehta (Ulisseia)





O abismo cultural entre a "Índia real" e a Índia britânica através do olhar de uma princesa do reino de Rajputan.


Baseando-se nos depoimentos de um número considerável de mulheres oriundas das mais antigas famílias reais indianas, Gita Mehta compõe uma interessantíssima personagem central de um belíssimo romance histórico que abarca toda a primeira metade do século XX, coincidente com o processo histórico que levou à independência da Índia e à desagregação do Império Britânico.

A ideia surgiu-lhe a partir de uma frase de Mahatma Gandhi que afirmava que "Quem quiser conhecer bem a Índia, terá de estudar as aldeias e as mulheres indianas."

Por isso, em "Jaya", temos a oportunidade temos a oportunidade de olhar para dentro de uma zenana (harém indiano) e de nos introduzirmos um pouco no seu misterioso e secreto (do ponto de vista ocidental) quotidiano permitindo-nos conhecer em profundidade as classes dirigentes da altura.

A autora, tendo nascido em 1943, Nova Deli, filha de um membro proeminente de um dos grupos que se batiam pela independência da Índia e que veio, mais tarde a tornar-se um dos líderes políticos do estado oriental de Orissa, estudou na Índia e no Reino Unido.

Fortemente impregnada destas duas culturas, tal como a sua personagem "Jaya", a sua escrita é extremamente forte, dando largas ao seu sentido crítico, especialmente quando coloca em evidência a prepotência dos colonizadores e o seu ostensivo desdém pelos costumes, tradições e gentes da Índia, Mehta não poupa ninguém desde o vice-rei ao primeiro-ministro Winston Churchill.

A princesa Jaya, sendo uma personagem de ficção revela, contudo, um carácter extremamente verosímil e sobretudo pragmático pois é composta por uma mistura de traços de personalidade de várias mulheres da realeza indiana para além de assumir algumas facetas da própria autora, como por exemplo: o facto de estar marcada pela herança cultural milenar transmitida pelos seus antepassados e a instrução de cariz ocidental adquirida através da tutoria dos seus preceptores britânicos ou, simplesmente anglófilos.

Jaya nasce numa família tradicional, mas ao casar com um príncipe de um reino vizinho é compelida a rejeitar a sua própria cultura e a ocidentalizar-se.

O dilema de Jaya será, consequentemente, o de conseguir integrar-se, ser aceite e respeitada quer na Índia Britânica quer na metrópole onde é vista como uma "Vénus negra".

Mas Jaya só conseguirá ter total autonomia e liberdade de acção quando assumir a posição de regente do reino após a morte do marido.

Entretanto, sopram os ventos de mudança, decorridas duas guerras à escala mundial, na qual a Jóia da Coroa do Império teve de tomar parte activa - por imposição do governo da Metrópole - findas as quais, as finanças do reino se encontram simplesmente esgotadas.

A revolução impõe-se a necessidade de reconhecer a independência do continente indiano sob o domínio britânico já não pode ser ignorada.

O Império desagrega-se e com ele a maior parte dos regimes políticos dos reinos indianos incluindo Sirpur onde reina Jaya e onde, a partir de agora se irão realizar eleições livres. Uma nova esperança de autonomia para as mulheres indianas?

Um belíssimo pedaço da história do século XX. Para analisar e ajudar-nos a entender a complexa realidade de um continente que continua a seduzir e a inspirar a humanidade.


Cláudia de Sousa Dias

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